terça-feira, 24 de abril de 2012

Close Friends/Amigos Próximos, de Roberta Vieira



CAPÍTULO 1. Londres

A história de R. foi uma novela em capítulos. A gente se conheceu no ano de 1997, em Londres, uma semana antes de eu voltar para o Brasil, depois de seis meses na Europa. Foi um lance meio químico. Amigo de amigo/fim de balada, meio bêbada/muito tempo na seca/minha última semana em Londres, depois de tanta coisa. Nem pensei. Vi aquele holandês enorme, loiro de olhos azuis e decidi: vai ser meu essa noite.
Convenci o moço a voltar comigo para casa, junto com a amiga brasileira Y. e, no momento caso e depois futuro marido, o alemão B., para nosso apartamento num bairro no subúrbio, na zona 52 como brincava uma amiga para dizer que era periferia "máster", do norte da capital inglesa. B., de “tiração de sarro", com seu famoso humor germânico, havia me presenteado com uma camisinha da marca Big Band. Segundo ele, para me dar sorte no retorno ao Brasil. Mas quis o destino e o desejo que ela fosse usada naquela noite; com aquele homem.
Ele chegou, super sem graça, no flat que a gente dividia na reta final da temporada londrina. De tanta vergonha nem me olhava direito. Eu, de boa. Daqui a pouco estou na minha terra, conclui. O “mochilão” pela Europa já tinha rolado e eu considerava aqueles momentos como hora extra no ano morando na Europa. Uma xícara de chá, muita conversa furada em inglês macarrônico, da minha parte, dois tontos, quando finalmente eu mandei: Vamos dormir?
Arrumei o edredon no chão, umas almofadas e ajeitei o sofá para ele. Apaguei a luz e deitei. Será que ele vai "arregar"? Cinco minutos depois, ele me pergunta se pode deitar comigo. Meu ninho parece mais aconchegante que o dele. Digo que sim e ele se aproxima. Tão nórdico que na hora do beijo pergunta: posso te beijar? Respondo com o slogan da Nike, bendida publicidade que ajuda a gente. “Don’t ask. Just do it”. E ele fez. E no dia seguinte me ligou, me chamou para a casa dele e passamos uma semana juntos em King´s Cross, linha azul do metrô.  Mind the gap, please, between the line and the plataform.


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